Países Participantes
Guiné-Bissau: Sector de Energia
Tempo de liberação:2025-12-19
  • Share To:

I. Introdução

A energia desempenha um papel crucial no desenvolvimento socioeconómico de qualquer país. No caso da Guiné-Bissau, um dos países menos desenvolvidos da África Ocidental, o sector energético representa simultaneamente um desafio estrutural e uma oportunidade estratégica. A baixa taxa de acesso à eletricidade, aliada à dependência quase exclusiva de combustíveis fósseis importados, limita o crescimento económico e agrava as desigualdades regionais. No entanto, o país possui um potencial significativo para o desenvolvimento de fontes de energia renovável, como a solar e a biomassa, o que abre espaço para um modelo de transição energética sustentável e inclusivo.


Em dezembro de 2018, Conferência Internacional Energia Sustentável da Guiné-Bissa aconteceu com apoio de agências da ONU para promover investimentos em energia renovável no sector elétrico da Guiné-Bissau. Durante a conferência, o Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis, Paner e o Plano de Ação Nacional para a Eficiência Energética, Panee foram apresentadas.

II. Situação Actual do Sector de Energia

  • Baixa taxa de eletrificação: Na Guiné-Bissau, apenas 35,76% da população tem acesso à energia, estando a maioria deste recurso limitado concentrado na capital, Bissau. Nas zonas rurais, esse número é inferior a 10%. A capital Bissau concentra a maior parte da eletrificação, enquanto as áreas do interior permanecem isoladas e sem acesso à energia. Para as pessoas que vivem nas zonas rurais, a situação é ainda mais grave, uma vez que enfrentam desafios significativos devido à falta de fontes de energia fiáveis. Esta grande disparidade é agravada pelas infraestruturas subdesenvolvidas do país, que dificultam ainda mais o acesso e a utilização da energia.

1.png

Imagem 1: Empresa da Eletricidade e Água da Guiné-Bissa

  • Forte dependência de geradores a diesel: A Guiné-Bissau enfrenta uma forte dependência de geradores a diesel para a produção de eletricidade, uma vez que o país não dispõe de fontes próprias de petróleo, carvão, gás natural ou energia hidrelétrica. Como resultado, todos os produtos petrolíferos são importados, o que acarreta elevados custos para a economia nacional.

  • Infraestruturas envelhecidas: A rede elétrica da Guiné-Bissau é limitada e composta por equipamentos obsoletos, o que compromete seriamente a eficiência do sistema. As redes de distribuição envelhecidas geram perdas técnicas elevadas, com uma taxa de desperdício que chega a quase 47% [1].Essa ineficiência resulta em cortes frequentes no fornecimento e em um serviço de baixa qualidade para a população.

III. Potencial de Energias Renováveis

Embora enfrente sérias limitações actual, a Guiné-Bissau possui condições naturais ideais para o aproveitamento de energias renováveis:

1. Energia Solar

Devido à sua localização geográfica, o país recebe alta radiação solar durante todo o ano, o que permite a instalação eficiente de sistemas fotovoltaicos, tanto para mini-redes comunitárias como para sistemas domésticos isolados. Essa é a fonte com maior viabilidade técnica e impacto imediato.


2.png

Imagem 2: Sistema solar caseiro instalado

2. Biomassa

O país possui potencial para gerar energia a partir de resíduos agrícolas e florestais, especialmente em regiões com actividade agrícola significativa. Actualmente, a biomassa representa mais de 84% do consumo final de energia no país, seguida pelos produtos petrolíferos (15%) e pela eletricidade (1%). Isso demonstra a importância da biomassa no sistema energético nacional e o seu papel estratégico para o desenvolvimento sustentável. [2]


O país tem cerca de 2 milhões de hectares de floresta, com um volume disponível de biomassa estimado em 48,3 milhões de m³. No entanto, o consumo anual de madeira para fins energéticos chega a 625 mil m³. Além disso, estima-se que resíduos agrícolas, restos do processamento de madeira e esterco animal oferecem um potencial adicional de cerca de 67 mil m³ por ano. Há também potencial para biocombustíveis, com cerca de 10 mil m³ derivados do caju e 20 hectares de plantações de Jatropha.

3. Energia Eólica e Hidrelétrica

Embora menos exploradas, algumas regiões costeiras e fluviais apresentam potencial eólico e hídrico moderado, que poderiam ser integrados a projetos híbridos descentralizados. Em energia hidroelétrica, a construção projectada da barragem do Saltinho no rio Corubal, com potência prevista de 21,2 MW, poderá vir a fornecer eletricidade a todo o país, bem como gerar eletricidade para exportação. [3]


3.png

Imagem3: Rápidos de Saltinho no rio Corubal

IV. Oportunidades e Caminhos para o Futuro

A Guiné-Bissau quer transformar o seu sector de energia até 2030. Os projectos, com um custo estimado de US$ 700 milhões, devem diminuir a dependência externa do país e promover energias renováveis. A Guiné-Bissau possui um enorme potencial para o desenvolvimento de energias limpas, mas esses recursos energéticos permanecem inexplorados devido à insuficiência de capacidades financeiras, regulatórias e técnicas.


A Guiné-Bissau tem contado com apoio de parceiros internacionais para implementar reformas e projectos no sector energético e até agora, mais de US$ 50 milhões em compromissos de financiamento foram mobilizados. [4] Por exemplo, O Banco Mundial anunciou que irá apoiar o desenvolvimento das primeiras centrais solares na Guiné-Bissau, tendo já aprovado a concessão de um donativo no valor de 30 milhões de dólares.[5] O país possui recursos solares significativos e ainda inexplorados, que representam a forma mais económica e rápida de reduzir o défice no fornecimento de eletricidade.


O país tambem está procurando investidores e financiadores para investir nesses projectos . O governo da Guiné-Bissau também apoiará a instalação e operação, por parceiros privados, de mini-redes em duas ou três ilhas do arquipélago dos Bijagós (Bolama, Rubane e Bubaque). As mini-redes serão abastecidas por fontes de energia renovável.

V. Conclusão

A Guiné-Bissau enfrenta enormes desafios no sector energético, mas também possui condições favoráveis para construir um futuro energético mais limpo, justo e resiliente. O investimento em energias renováveis, combinado com reformas estruturais e boa governança, poderá transformar o sector num verdadeiro motor de crescimento económico, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Com vontade política, cooperação internacional e envolvimento da sociedade civil, a energia pode deixar de ser uma limitação e passar a ser uma solução estratégica para o progresso do país.


[1] https://africa-energy-portal.org/aep/country/guinea-bissau

[2] https://au-afrec.org/guinea-bissau

[3] https://www.cobagroup.com/NOTICIAS/arq_2023/arquivo_2023_PT.aspx

[4] https://news.un.org/pt/story/2018/12/1651501

[5] https://africa-energy-portal.org/news/guinea-bissau-launches-large-scale-solar-power-ida-support