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Ramos-Horta eleito Presidente de Timor-Leste pela segunda vez
Tempo de liberação:2022-09-07
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José Ramos-Horta comprometeu-se a ser o Presidente de todos os timorenses sem “vacilações, dúvidas ou subterfúgios” e apelou à unidade nacional, ao ser investido no cargo como quinto Presidente de Timor-Leste, em cerimónia ocorrida em Maio passado.


“Não represento apenas aqueles que em mim votaram. Todos os timorenses que comigo partilham o amor a esta terra e à nossa história estão no meu pensamento”, disse Ramos-Horta.


No seu primeiro discurso como chefe de Estado - cargo que já ocupou entre 2007 e 2012 - Ramos-Horta recordou a história do país, as dificuldades da luta pela independência, restaurada há 20 anos, e sublinhou os desafios do futuro.


O Prémio Nobel da Paz José Ramos-Horta, 72 anos, foi igualmente Primeiro-Ministro de Timor-Leste de 2006 a 2007.


“Tenho a honra de tomar posse num aniversário pleno de significado para a nossa história nacional. Passados vinte anos, é importante relembrar o extraordinário exemplo de unidade e comunhão do povo timorense e dos seus líderes durante o período da luta pela independência”, afirmou.


“Hoje, mais do que nunca, devemos estar plenamente conscientes de que só em unidade conseguiremos alcançar os objectivos de desenvolvimento que nos propomos”, disse, considerando essencial proteger a “democracia dinâmica, mas ainda vulnerável” do país.


Comprometeu-se a promover o diálogo inter-institucional, a salvaguardar os valores constitucionais e os ligados à identidade nacional “no sentido de inclusão e na inabalável fé do povo timorense.”


O Presidente timorense recordou as muitas conquistas das últimas décadas, depois de 1999, quando o país ficou reduzido a “ruínas, a escombros”, com o tecido económico e comercial nacional “praticamente inexistente.”


Entre as melhorias destacou o aumento da esperança média de vida, de 58 para 70 anos, da electrificação a chegar a mais de 96% da população, do desenvolvimento da rede de infra-estruturas nacionais e das grandes melhorias nos sectores sociais.


Apesar disso alertou para os “grandes desafios em sectores estratégicos”, nomeadamente “agricultura e produção alimentar, segurança alimentar e nutrição, saúde, água potável e saneamento, educação pré-escolar e formação técnico-profissional e criação de empregos.”


Entre as suas prioridades, “referiu o eliminar a subnutrição, reduzir a extrema pobreza (que afecta 40% da população) e a exclusão social e combater a corrupção.”


O Presidente José Ramos-Horta defendeu ainda na sua intervenção o reforço das relações internacionais de Timor-Leste com os países vizinhos, no quadro da ASEAN e com a China, pedindo mais apoio dos Estados Unidos.


“É nossa intenção expandir a cooperação bilateral com a China, sobretudo, nas áreas da agricultura sustentável, orgânica, pequenas indústrias, comércio, novas tecnologias, energias renováveis, conectividade, digitalização, inteligência artificial e infra-estruturas nacionais e rurais”, afirmou.


Ainda relativamente a Pequim, Ramos-Horta notou a “responsabilidade acrescida na promoção e defesa do diálogo para a preservação da paz regional e global”, considerando que “a paz só será real e duradoira quando é alcançada por via do diálogo e respeito mútuo, em que nenhuma parte se sente coagida e humilhada.”


Saudou o apoio dado pelos Estados Unidos desde a restauração da independência, sublinhou a importância do programa da Millennium Challenge Corporation, que vai ser assinado em breve, e pediu que fossem retomados os programas do US Peace Corps “nas áreas de ensino da língua inglesa e de apoio a projectos de desenvolvimento rural.”


“Vivemos numa democracia imperfeita, mas pacífica, sem registo de qualquer tipo de violência política, étnica ou religiosa, em que as várias religiões predominantes no nosso país convivem em espírito de plena fraternidade”, disse.


“A partir deste oásis de tranquilidade, reafirmo o meu empenho no combate pela paz e pela fraternidade humana a nível nacional, regional e internacional independentemente de ideologias, religião ou organização social”, salientou.


Apostando no multilateralismo, Ramos-Horta destacou o papel “central” das Nações Unidas na construção do Estado timorense.


Entre outros aspectos, destacou os “laços seculares” e “o mais profundo afecto” da relação com Portugal, país que tem sido “um verdadeiro amigo, solidário, generoso e persistente, em todos os momentos difíceis” de Timor-Leste.


Em termos regionais, disse, que os laços com a Indonésia, Austrália, Nova Zelândia e o Sudeste Asiático “devem estar no topo” 


da agenda nacional, procurando “formas eficazes de maior integração económica e comercial, de maior cooperação nas áreas da defesa e segurança, designadamente segurança marítima”.


Ramos-Horta defendeu que deve ser retomada uma ideia que foi praticamente abandonada pelo actual Governo, a da triangulação entre Timor-Leste, o Território Norte da Austrália e a metade indonésia da ilha, particularmente para o “desenvolvimento do comércio e mobilidade de pessoas e produtos através em conectividade marítima e aérea.”


Ramos-Horta reiterou igualmente a prioridade na adesão em 2023 à ASEAN, como “objectivo estratégico nacional” e o fortalecimento dos laços com o Japão e Coreia do Sul.