Países Participantes
O novo ímpeto da economia digital e as oportunidades na cooperação sino-lusófona
Tempo de liberação:2025-06-18
  • Share To:

A nova fase da economia digital, com base em tecnologias avançadas, está cada vez mais entrelaçada com a economia tradicional, redefinindo modelos de cooperação e criando oportunidades para o desenvolvimento

A economia digital é um conceito que tem vindo a ganhar preponderância nas relações comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa, englobando um conjunto amplo de actividades económicas que são facilitadas ou ampliadas pelo uso de tecnologias digitais.


Não só o conceito estabelece novas formas de se consumir produtos e serviços, nomeadamente através do comércio electrónico, mas também abre as portas ao estabelecimento de novos negócios em diversas áreas, com potencial para influenciar positivamente o desenvolvimento dos países e regiões.


Em Outubro de 2023, durante o 3.º Fórum “Uma Faixa, Uma Rota” para a Cooperação Internacional, realizado em Pequim, a China lançou, em conjunto com mais de 30 países, a “Iniciativa-Quadro de Cooperação Económica e Comercial Internacional sobre Economia Digital e Desenvolvimento Verde”.


O reforço da cooperação sino-lusófona na área da economia digital é contemplado no “Plano de Acção para a Cooperação Económica e Comercial (2024-2027)”, assinado durante a 6.ª Conferência Ministerial do Fórum de Macau, que decorreu em Abril de 2024.


O documento refere que os Ministros “acordaram em apoiar o reforço da cooperação entre os países participantes interessados nos domínios de inteligência artificial, serviços ‘over-the-top’, ‘Big Data’ e computação em nuvem, Internet das Coisas, entre outros, tendo em conta os enquadramentos nacionais, por forma a promoverem a transformação digital do comércio e do investimento.


“Temos toda a disponibilidade para reforçar a cooperação com os Países de Língua Portuguesa em áreas como comércio electrónico, promovendo conjuntamente o desenvolvimento da digitalização do comércio e do investimento”, afirmou Guo Tingting, então Vice-Ministra do Comércio da República Popular da China, num discurso proferido no Encontro de Empresários, um subevento da sexta edição da Conferência Ministerial do Fórum de Macau.


“Estamos dispostos a promover [a economia digital] junto dos Países de Língua Portuguesa para melhorar a governação global científica e tecnológica, de modo a criar um ambiente de desenvolvimento científico e tecnológico aberto, justo, equitativo e não discriminatório para que as conquistas tecnológicas possam beneficiar melhor os povos de todos os países”, acrescentou a governante.


O Encontro de Empresários decorreu sob o tema “Promoção das Novas Tendências de Transformação Digital e Partilha de Novas Oportunidades para o Desenvolvimento Verde”, áreas que se apresentam cada vez mais relevantes na cooperação entre a China e os países lusófonos.

Maior investimento, mais inovação

No âmbito da cooperação sino-lusófona, os países participantes no Fórum de Macau acordaram em incentivar o desenvolvimento de projectos de cooperação na área da inovação tecnológica, tais como ampliação da digitalização, com foco nos serviços públicos, serviços financeiros e sector da saúde, criando novas oportunidades de negócios e novos modelos de desenvolvimento integrado digitalizado.


Além disso, foi também manifestada a abertura para promover ainda mais o comércio electrónico e a indústria da logística, mediante a partilha de experiências, desenvolvimento de projectos conjuntos de investigação e inovação, formação e capacitação de recursos humanos e apoio ao intercâmbio e cooperação entre empresas.


Os Ministros dos países participantes acordaram ainda em estabelecer um “Pavilhão Virtual dos Produtos de Macau e dos Países de Língua Portuguesa” nas principais plataformas de comércio electrónico da China, com o objectivo de promover a exportação dos produtos lusófonos para a China.


Durante a 6.ª Conferência Ministerial, Olavo Correia, Vice-Primeiro-Ministro, Ministro das Finanças e do Fomento Empresarial e Ministro da Economia Digital de Cabo Verde, identificou áreas fundamentais para investimento e desenvolvimento do país, incluindo a transição digital, o sector da economia azul, o turismo e a economia verde.


O programa “Cabo Verde Ambição 2030” aposta no fomento de sectores como a inovação tecnológica e a agilização da economia digital, procurando atrair mais investimento directo estrangeiro, através da construção de parques tecnológicos no país.


O Governo cabo-verdiano pretende desenvolver a economia digital como um sector exportador de serviços, apoiando a modernização do país e a melhoria do ambiente de negócios, da eficiência e da produtividade.


Também outros países participantes no Fórum de Macau olham para o mais recente Plano de Acção como um pacto que “abre oportunidades para a dinamização de investimentos” em vários sectores, incluindo economia digital, logística e digitalização. 


“Espero que, durante os próximos anos, para além das actividades mais tradicionais de promoção do comércio e do investimento, seja possível intensificar a cooperação no âmbito do Fórum de Macau em sectores como o empreendedorismo e a inovação, o comércio electrónico, a transição verde e digital, ou a economia, caracterizados por um forte predomínio das micro, pequenas e médias empresas”, salientou Ludovina Bernardo, então Vice-Ministra da Indústria e Comércio de Moçambique, no âmbito da 6.ª Conferência Ministerial.


Segundo os representantes dos países participantes, foram registados “desempenhos notáveis nos últimos anos” em termos da cooperação em sectores como a energia, a digitalização e o turismo. 

Tecnologia e o papel de Macau

O mais recente Plano de Acção estabelece também o aprofundamento da cooperação na área da tecnologia como uma das prioridades, representando um dos pilares da economia digital.


Neste contexto, os Ministros dos países participantes reconheceram a importância dos avanços científicos e tecnológicos na perspectiva do desenvolvimento e acordaram em promover a investigação conjunta e o intercâmbio, nomeadamente nos domínios de investigação do espaço, do mar, materiais e computação avançada, bem como em impulsionar a construção cooperativa de plataformas relevantes, a exemplo de laboratórios conjuntos.


O desenvolvimento de projectos como a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin poderá dar um novo impulso em termos de cooperação na área da economia digital.


As partes acordaram em apoiar a Região Administrativa Especial de Macau no desenvolvimento do seu papel enquanto plataforma e na ligação com os projectos de construção da Grande Baía e da Zona de Cooperação Aprofundada, promovendo o intercâmbio e a cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa nos domínios da inovação e empreendedorismo e da cooperação científica e tecnológica.


Num artigo publicado no portal electrónico do Diário do Povo, Ye Guiping, Vice-Presidente da Universidade da Cidade de Macau, destacou que Macau poderá consolidar o seu papel como plataforma de cooperação, fornecendo “serviços de nível superior para o comércio e investimento, cooperação financeira e intercâmbios culturais entre a China e os países lusófonos”.


O académico referiu que Macau poderá fazer uso da Grande Baía e da Zona de Cooperação Aprofundada “como extensões da plataforma China-países lusófonos, visando a construção de um centro de comércio internacional China-países lusófonos e um centro internacional para o comércio digital”. 


“Esses empreendimentos objectivam promover a transformação do comércio tradicional e levar os Países de Língua Portuguesa a construírem em conjunto” a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, acrescentou.


Ye Guiping realçou que Macau pode fazer uso das políticas preferenciais da Zona de Cooperação Aprofundada para apoiar o desenvolvimento de infra-estruturas e responder às necessidades de financiamento dos Países de Língua Portuguesa, como forma de “resolver problemas, como a falta do investimento e a promoção de benefícios mútuos com resultados partilhados”.


As autoridades de Macau, da Zona de Cooperação Aprofundada e de Zhuhai construíram conjuntamente, com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia da China, o Centro de Intercâmbio e Cooperação em Ciência e Tecnologia entre a China e os Países de Língua Portuguesa. 


O centro visa introduzir empresas tecnológicas dos países lusófonos no mercado chinês, ajudando, por outro lado, as empresas tecnológicas do Interior da China a desenvolverem-se no exterior. O organismo adopta um modelo de operação de “duplo centros”, com representação em Macau e no Vale de Criação de Negócios para os Jovens de Macau em Hengqin.


De acordo com a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), o centro tem por objectivo reforçar a interacção entre o Interior da China e os Países de Língua Portuguesa em termos de transferência e transformação dos resultados científicos e tecnológicos, inovação e empreendedorismo, cooperação científica e tecnológica. Tal esforço pretende promover a inovação, apoiando as empresas tecnológicas dos países lusófonos no desenvolvimento da cooperação e na exploração de mercados na Grande Baía.


No ano passado, a DSEDT organizou uma visita de estudo de empresas de inovação tecnológica dos Países de Língua Portuguesa a Macau, Hengqin, Zhuhai e Guangzhou, dando a conhecer o ecossistema da inovação científica na região da Grande Baía, bem como as vantagens do mercado e as políticas em vigor.


Segundo as autoridades de Macau, duas destas companhias – empresas do Brasil dedicadas à tecnologia farmacêutica e à biotecnologia ambiental – estavam já a estabelecer-se em Macau, demonstrando o interesse das empresas de inovação tecnológica em explorar o mercado do Interior da China.