Portugal tem uma indústria aeroespacial forte, inovadora e orientada para a exportação, com capacidades diversas ao longo da cadeia de valor, desde a concepção e produção até aos sistemas e serviços. A indústria cresceu muito nas duas últimas décadas, atraindo empresas multinacionais líderes, estabelecendo parcerias e participando em programas internacionais de I&D e inovação.
Há 20 anos havia muito poucas empresas da área aeronáutica e aerospacial em Portugal, mas hoje a indústria emprega mais de 18 mil trabalhadores e representa já 1,4% do PIB (sensivelmente 2,9 mil milhões de euros). Hoje em dia, Portugal dá cartas na engenharia aeroespacial e na produção industrial do sector. Tem uma voz ativa na Agência Espacial Europeia através da Portugal Space e do projeto para o ecossistema de inovação espacial na ilha açoriana de Santa Maria. Ao nível do desenvolvimento de negócios, beneficia de um ecossistema de empresas e escolas superiores que integram um cluster cada vez mais forte, composto por 62 instituições e empresas que têm vindo a distinguir-se a nível mundial. Juntamente com mais 64 organismos e indústrias tecnológicas da área da Defesa e outras 82 da aeronáutica, consolidam uma das redes de alta tecnologia mais sofisticadas da Europa.
A indústria aeronáutica e aeroespacial portuguesa está a crescer rapidamente através de clusters, nomeadamente o Cluster Português para as Indústrias de Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED). O AED foi criado em 2016, como uma organização privada sem fins lucrativos. Em 2017, recebeu o reconhecimento oficial do Governo Português enquanto “Cluster de Competitividade Emergente”, envolvendo já, mais de 140 entidades estabelecidas em Portugal. O Cluster reúne os principais stakeholders dos três setores e emprega directamente mais de 18.500 pessoas, gerando um volume de negócios anual superior a 1,72 mil milhões de euros, dos quais 87% são provenientes de exportações, com crescimentos anuais que chegaram aos 12% nos últimos dez anos. O AED tem um posicionamento muito claro como um ponto de entrada no país e elemento dinamizador para todos os actores nacionais e internacionais.

Imagem 1: AED
O lançamento do foguetão europeu de Ariane 6, no dia 9 de julho de 2024, foi um marco importante para a indústria aeroespacial portuguesa. Este foi um momento muito relevante para Portugal já que levou a bordo o primeiro satélite desenvolvido por uma universidade portuguesa, o ISTSat-1, um nanossatélite construído por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico (IST), e contou com a telemetria da empresa portuguesa Critical Software e a monitorização inicial do percurso do foguetão sobre o Atlântico foi feita a partir da estação da Agência Espacial Europeia (ESA) na ilha de Santa Maria, nos Açores.

Imagem 2: Cenário de trabalho de lançamento do Ariane 6

Imagem 3: Lançamento do Ariane 6

Imagem 4: estação da ESA na ilha de Santa Maria, nos Açores

Imagem 5: ISTSat-1
Perto de vários polos aeroespaciais de Espanha, França ou Itália, e com uma localização privilegiada em que o Atlântico liga a Europa ao continente americano e africano, Portugal tem sido um destino atrativo para investimentos nos sectores da aeronáutica, espaço e defesa. A excelência da formação e o aumento da capacidade de investigação nestas áreas são determinantes. Ter uma das taxas mais elevadas de diplomados em engenharia da União Europeia garante as competências. Por isso, as empresas portuguesas ligadas à aeronáutica ou ao espaço têm ganho notoriedade internacional e despertado o interesse de investidores.
Portugal atrai hoje o investimento de alguns dos principais gigantes da aeronáutica, tais como a Airbus Atlantic, Rocket Factory Augsburg (RFA) ou a Beyond Gravity. Na era do Novo Espaço já não são apenas as grandes potências que competem entre si. A exploração comercial do espaço é há muito uma realidade e as tecnologias e serviços desenvolvidos pelas empresas do setor vão permitir melhorar comunicações, ter imagens em tempo real que facilitem as operações em cenários de catástrofe, por exemplo, ou acompanhar o impacto das alterações climáticas e ajudar a proteger a Terra. Estamos, portanto, perante sectores de valor acrescentado que nos próximos anos serão fundamentais para o crescimento da economia.
As Parcerias internacionais e os investimentos neste setor reforçam a notoriedade de Portugal. O investimento estrangeiro e as parcerias internacionais relacionadas com a aeronáutica, espaço e defesa também têm aumentado nos últimos anos e contribuído para o desenvolvimento destes sectores. É o caso do investimento do grupo alemão Rocket Factory Augsburg (RFA), que em 2021 estabeleceu uma parceria com o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), em Matosinhos, para produzir sistemas de lançadores espaciais em Portugal. Para isso contribuiu a formação e competência dos mais de 300 engenheiros que trabalham no CEiiA e que passaram a desenvolver componentes complexos para o sector espacial.

Imagem 6: RFA estabeleceu uma parceria com o CEiiA
Também a norte-americana LeoLabs selecionou o porto espacial de Santa Maria, nos Açores, para instalar um radar espacial destinado para rastrear satélites e lixo espacial na órbita baixa da Terra, até mil quilómetros de altitude, o que permitiu aumentar a capacidade de monitorização da empresa. E a Airbus, por sua vez, escolheu a empresa portuguesa Critical Software como parceira estratégica para o desenvolvimento de software, sistemas críticos e aplicações para a gestão de cabines das aeronaves.

Imagem 7: LeoLabs selecionou o porto espacial de Santa Maria, nos Açores, para instalar um radar espacial

Imagem 8: Airbus escolheu a Critical Software como parceira estratégica
Estes são apenas alguns exemplos de parcerias ou investimentos ligados ao sector aeroespacial. O ecossistema português já deu provas do seu valor e está, ainda, perante um grande potencial de crescimento, capaz de fazer face aos desafios que estes sectores industriais enfrentam.
Em termos de enquadramento institucional e de garantias legislativas, Portugal criou a Agência Espacial Portuguesa e publicou um decreto-lei espacial em 2019, especialmente focada nas actividades desenvolvidas na zona Atlântica, em especial, no Porto Espacial dos Açores, ou Atlantic International Research Center, bem localizado para projetcos de microlançadores vocacionados para a colocação em órbita de nanossatélites.

Imagem 9: Agência Espacial Portuguesa
Em termos de desenvolvimento de recursos humanos, existem seis grandes universidades e escolas de engenharia em Portugal que oferecem programas no domínio aeronáutico e aeroespacial: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Instituto Politécnico de Leiria (IPL), o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), o Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa e a UNINOVA, da Universidade Nova de Lisboa.
Análise SWOT do sector aeronáutico e aeroespacial português


Trata-se, pois, de um sector que gera valor, empregos qualificados, exportações, inovação, investigação, desenvolvimento e conhecimentos, apresentando um caráter transversal e integrador de diversos sectores económicos que constitui uma fonte considerável de crescimento e inovação com significativo retorno económico e tecnológico. O contributo da indústria aeronáutica e aerospacial hoje amplamente é reconhecido pelas suas vantagens competitivas, pela sua crescente importância na criação de conhecimento e na produção de desenvolvimento tecnológico, na geração de maiores níveis de produtividade, no estímulo à reestruturação do tecido produtivo para a produção de bens de maior valor acrescentado e para o crescimento das exportações e da internacionalização da economia portuguesa. Tendo em conta o impacto e potencial deste sector, Portugal está empenhado em criar condições mais atractivas, do ponto de vista de incentivos e agilidade na captação de empreendedores e investidores que tenham vontade e capacidade de apostar nesta indústria no território nacional.


